quinta-feira, 5 de junho de 2008

A roupa pode influenciar nos resultados dos atletas?

Federação Internacional aprova maiôs concorrentes do LZR Racer

A Fina (Federação Internacional de Natação) anunciou nesta quarta-feira a liberação dos novos modelos de maiôs das marcas Arena, Adidas e Mizuno. Os trajes são as respostas dessas marcas ao LZR Racer, da Speedo, que vestiu nadadores em 37 recordes mundiais, em piscina curta e olímpica, neste ano.

"Eles estão todos aprovados. As marcas já conhecem as regras, então não tivemos problemas", disse o diretor-executivo da Fina, Cornel Marculescu.

Desde que foi lançado, o LZR Racer tem criado polêmica no mundo da natação, tanto que chegou a ser vetado em algumas competições classificatórias para os Jogos Olímpicos de Pequim.

O maiô não tem costuras e é feito de material que repele a água. Ajuda na flutuabilidade, principal ponto a levantar polêmica, e promete 5% menos atrito e 4% a mais de velocidade que o traje anterior.

As marcas de material esportivo têm até o dia 30 de julho para conseguir a liberação dos seus trajes para a Olimpíada chinesa, que será realizada entre os dias 8 e 24 de agosto.

Trajes vão decidir recordes em Pequim

Atual bicampeão dos 100 m livre, o nadador italiano Filippo Magnini afirmou nesta terça-feira que acredita que a prova em que é especialista será decidida pela tecnologia nos Jogos de Pequim.

"Não ganhará o melhor, mas sim quem puder contar com a melhor tecnologia. Na Olimpíada, vestirei o traje que me permita competir em igualdade de condições com os outros", disse o italiano.

Magnini deve utilizar em Pequim o novo maiô da Arena, que será lançado oficialmente no próximo mês. O modelo tenta rivalizar com o LZR Racer, da Speedo, usado por 18 dos 19 nadadores que quebraram recordes mundiais de piscina longa em 2008.

As duas marcas mais expressivas do ano na distância --47s50, o recorde mundial batido pelo francês Alain Bernard, e 47s52, obtido pelo australiano Eamon Sullivan-- foram conquistadas com o auxílio do LZR Racer.

O melhor tempo de Magnini na temporada é 48s53, apenas o 13º do ranking do ano. Em 2005, o italiano chegou a nadar a distância em 48s12.

Estudo de especialista francês aponta ganho de 2% com novo maiô

O inovador LZR Racer, maiô usado por 18 dos 19 nadadores que quebraram recordes mundiais neste ano em piscina de 50 m, melhora os tempos em até 2%, segundo estudo de especialista francês.

Jean-François Toussaint, diretor do Instituto Francês de Investigação Biomédica e Epidemiológica do Esporte, baseou a investigação sobre a progressão fisiológica dos atletas na observação dos recordes e num cálculo estatístico, sem levar em conta os novos maiôs.

Mesmo assim, Toussaint concluiu que as peças melhoram os tempos em até 2%. "Podemos imaginar uma prova de 100 m livre em 46s e uma de 50 m em 20s50", disse o francês.

Ele citou as três quebras de recorde dos 50 m livre no período de um mês para demonstrar que as marcas, com o maiô, caem numa velocidade maior que nos últimos 20 anos.

O francês Alain Bernard detém o recorde dos 100 m livre, com 47s50. O australiano Eamon Sullivan é o detentor de melhor marca dos 50 m livre, com 21s28.

O trabalho de Toussaint tinha o objetivo de estabelecer limites dos recordes.

O maiô "high tech" foi liberado pela Fina, a entidade que comanda a natação mundial, após estudos feitos pela federação.

Técnico vê maiô como "doping psicológico", e atletas brasileiros divergem

Desde que foi lançado, no início deste ano, o maiô LZR Racer tem causado um verdadeiro turbilhão no mundo da natação. Às vésperas dos Jogos Olímpicos de Pequim, a modalidade vê uma incessante quebra de recordes mundiais, a maioria delas tendo o traje high-tech como protagonista.

O polêmico traje não deverá ser estrela entre os 434 nadadores que disputarão a partir desta terça-feira o Troféu Maria Lenk-2008, última seletiva brasileira para os Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, mas o maiô será o uniforme oficial da delegação brasileira de natação em Pequim.

Das 19 melhores marcas mundiais obtidas em 2008 em piscina olímpica (de 50 m), 18 foram conquistadas por atletas que vestiam o LZR, que teoricamente melhora a flutuabilidade dos nadadores que o utilizam.

Apesar de admitir que o maiô pode ajudar na obtenção de bons resultados, o técnico da seleção brasileira Alberto Silva, conhecido como Albertinho, considera que a maior parte do efeito do LZR é psicológico e que os atletas que o utilizam se favorecem da aura de "supertraje" criada pelos recordes.

"Não dá para a gente achar o efeito natural pelo volume de recordes quebrados. A evolução está aí. O maiô foi um incentivo a mais, ele deu um toque especial, que acabou virando muito mais um resultado psicológico. O LZR serve como doping psicológico. O cara coloca o maiô achando que vai arrebentar e, por acreditarem nisso, alguns arrebentam mesmo", afirmou.

O traje polêmico, que chegou a ser vetado nas seletivas olímpicas de alguns países para não "desequilibrar" as competições.

Alguns atletas brasileiros já tiveram a primeira experiência com o maiô e deram opiniões diferentes sobre o assunto.

"Eu acredito que o traje tem ajudado, porque no ano da última Olimpíada [2004] não tivemos tantos recordes sendo quebrados como está acontecendo esse ano. Eu tive a oportunidade de usar o LZR e consegui baixar quase um segundo e meio da minha melhor marca. Então, deve fazer alguma diferença sim", disse Lucas Salatta, que tem índice nos 200 m costas.

"Ele é melhor do que os outros, mas você não sente tanta diferença quando está nadando. Quando você chega e vê seu tempo bom e acaba colocando o mérito no o LZR. Mas isso vem do trabalho que você está fazendo, e não da roupa", retrucou Guilherme Guido, dos 100 m costas.

Críticas

Apesar de toda a euforia causada pelos recordes batidos neste início de temporada, o LZR não é unanimidade entre os atletas. Aos poucos, as críticas com relação a ele vão aparecendo.

A australiana Leisel Jones, campeã olímpica e mundial, reclamou da durabilidade do maiô. Segundo ela, o traje perde em aderência e em velocidade conforme é utilizado.

Outra crítica que tem se tornado popular diz respeito à "preferência" do maiô por provas de curta distância. Dos 18 recordes em piscina longa, 15 foram batidos em competições de 50 m ou 100 m.

"O LZR dá um ganho na velocidade, mas não melhora a resistência dos atletas. Se os nadadores passam os primeiros 100 metros muito forte, eles vão se cansar no resto da prova e o desempenho final não vai melhorar", explicou o treinador da seleção.

Fonte: Folha Online www.folha.com.br

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